sábado, 27 de junho de 2009

Resenha de:O que se pode aprender com a “MTV de papel” sobre juventude e sexualidade contemporâneas.




SOARES, Rosangela de F. R. e MEYER, Dagmar E. Estermann. O que se pode aprender com a “MTV de papel” sobre juventude e sexualidade contemporâneas. Revista Brasileira de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação. São Paulo, mai-ago, número 23, 2003.

As autoras afirmam que há a emergência de uma “nova” identidade juvenil e que deve ser pensada a partir da cultura juvenil e o crescente complexo global da mídia. Assim para as autoras estamos vivenciando um contexto, no qual a construção discursiva e social da juventude, que vai para além do âmbito da escolarização não se limita a ele, mas também abarca outros espaços pedagógicos. Como por exemplo, os meios de comunicação de massa que são considerados pelas autoras, como artefatos culturais, onde se inclui revistas e programas de televisão. Soares e Meyer se propuseram a analisar a revista MTV, que é um artefato cultural, como foi supracitado, que produz significados, ensinando determinado comportamento e os intitulando como os comportamentos adequados. Esta revista teve seu lançamento em março de 2001, sendo que apenas o Brasil, foi contemplado com a produção da mesma A partir da análise desta revista, pelas autoras se tem a intencionalidade de avaliar como este artefato cultural ajuda a constituir as formas de ser e de viver a sexualidade juvenil na contemporaneidade.
As autoras colocam que houve com o passar do tempo novas significações no que diz respeito à linguagem, cultura, currículo e pedagogia. As teorias Educacionais pós-críticas estão encarregadas de explicar estas mudanças. De acordo com esta teoria, a produção de conhecimento, as práticas sociais e culturais a ela vinculadas são entendidas como um movimento provisório, inserido e imbricado em relações de poder. Assim aponta-se para o pressuposto de que nada é natural, nada está dado de antemão e tudo pode ser passível de ser problematizado.
No contexto desta teorização a linguagem funciona como elemento central da organização social e da cultura e é fruto das relações de poder. Está totalmente relacionada e implicada com a produção daquilo que reconhecemos como nós e eles, certo e errado, igual e desigual. Desta forma, a linguagem esta implicada com a produção das identidades e das diferenças, com as hierarquizações e desigualdades presentes nas sociedades e culturas diversificadas. Este é o sentido de linguagem trabalhado no texto pelas autoras.
Diferença e identidade também são aspectos utilizados pela autora para teorizar a temática. Ambas as categorias são culturalmente produzidas. São dadas de acordo com as relações sociais e culturais, são atravessadas pelas relações de poder que estão presentes nos sistemas de significações. São relacionais e mutuamente dependentes. Isto se deve ao fato de que para a existência da identidade requer a fundamentação em algo externo a ela, sobre outra identidade, que não é a dela, sobre a diferença. Assim a identidade é marcada pela diferença, sendo ambas produzidas, ao mesmo tempo, no interior de processos de diferenciações, cujos resultados, são a identidade e a diferença.
O corpo é colocado como um exemplo, é tanto operador quanto um território importante dos processos de diferenciações, e isso é muito evidente e significativo, para as autoras, para se discutir sexualidade e gênero em sua relação com a juventude. Tornar-se hetero ou homossexual, homem ou mulher, envolve aprendizagens que estão inscritas nos corpos. Aprendizagens estas que estão invisíveis e tidas como comportamentos normais e naturais da anatomia de cada ser humano, ou devido aos hormônios que delimitam as identidades sexuais e de gênero desde o nascimento. Assim o corpo está envolvido nos processos de classificação e hierarquização cultural e social das diferenças, como também nos processos que buscam definir as identidades sexuais e de gênero. Diante disto, o questionamento que é feito pelas autoras, não é o fato de uma pessoa ser homossexual e a outra heterossexual, mas quais os mecanismos presentes na sociedade que colocam o hetero como normal e o homo como anormal. Que sistema de classificações é este, que classifica diferença e identidades como anômalas. Há na sociedade um sistema de classificações perpassado pelas relações de poder que indica quem é gordo, quem é magro, o que é ser saudavel e outros aspectos.
Teorizaçoes como estas realizadas pelas autoras, mostram como o processo educativo se faz para além dos espaços formais de aprendizagem, se estendendo aos meios de comunicação, brinquedo, literatura, que concebem formas conflitantes de viver a juventude, o corpo, a juventude e a sexualidade.
As autoras não desconsideram a importância da escola no processo de aprendizagem do jovem. Pontuam que, é um espaço de aprendizagem especifica e difrenciada, que não pode ser realizada em outro local. É considerada uma instituição que interfere, aprofunda ou fragiliza as aprendizagens que fazemos em outras instancias sociais, ao que as autoras denominam como pedagogia cultural.
No subtítulo “Apresentando o admirável mundo MTV”, as autoras relatam um breve histórico sobre a MTV (Music Television) descrevendo o momento de seu surgimento - em 1981 nos Estados Unidos - seus objetivos iniciais e também a forma como a emissora cresceu e se expandiu.
As autoras salientam o fato da MTV sempre divulgar a si mesma, além dos produtos de seus patrocinadores, e que isto é uma tendência observada no site, na emissora e na revista. Devido seu caráter global, acredita-se que a MTV deseja criar uma cultura juvenil no mundo como um todo, através do consumo não apenas dos produtos que ela exibe, mas também dela própria, isto é, a emissora, o site e a revista. De acordo com uma pesquisa realizada em 45 países do mundo, estima-se que a MTV é “um dos fatores mais significativos para os gostos e comportamentos compartilhados pelos adolescentes de classe média que participaram de tal pesquisa”. (Soares e Meyer, 2003, 140)
No texto, o jovem ao qual a MTV se dirige, é denominado “Cidadão MTV”. De acordo com as autoras este é um jovem que teria uma consciência profunda de seu lugar na sociedade. Podemos então compreender a razão da frase “faça a sua parte” estar presente em todas as campanhas sociais abordadas na revista, ou seja, na MTV de papel.
Ao descrever o “cidadão MTV” o texto remete a uma matéria publicada na revista MTV brasileira, onde se afirma que na atualidade todos os continentes assistem a MTV, pois literalmente esta atingiu uma dimensão global, inovando na linguagem televisiva, com planos curtos, rápidos, fragmentados. Esta linguagem MTV é similar em todos os países em que é transmitida, porém também é feita uma combinação às particularidades das programações locais, mistura-se o global ao local.
É nesta demarcação que as autoras afirmam que a partir dos anos 50 e 60 os jovens começam a se diferenciar dos adultos, adquirindo um rosto próque a partir dos anos 50 e 60 a juventude começa a se diferenciar dos adultos, adquirindo um rosto pr uma dimensçprio e como conseqüência tornando-se alvo do mercado, desde então este fenômeno vêm aumentando. No Brasil, os anos 90 marcam um enorme crescimento do mercado para o público jovem, envolvendo revistas, direcionadas especificamente para jovens, e na televisão, programas de auditório e novelas.
O texto demonstra que na MTV juventude e sexualidade são sempre temas centrais, há uma grande diversidade de programas abordando esta temática na emissora e também nas páginas da revista, o que caracteriza uma busca por tornar-se um referencial na popularização da sexualidade, evidenciando o quanto ela está relacionada à juventude, neste sentido, as autoras destacam alguns dos programas e matérias que comprovam esta proposição.
Trata-se, portanto de um texto útil para quem tem interesse em estudar a temática da juventude, considerando as implicações geradas pela mídia no desenvolvimento da sexualidade nesta etapa da vida humana.

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